Com menta naquele lugar. É bom.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Três Segundos, Apenas.



Um dia muito quente. Cada Cinco passos era um trago. Um dia normal. Na boca, o gosto ainda doce do café.

Chego ao ponto da condução. O cigarro ainda no meio, o cabelo bagunçado, rosto suado e o livro na mão. A condução quase cheia, dou a última tragada e entro, fechando a porta. Quando me acomodo no assento, eis que surge o encontro não marcado.

Alguma hora atrás me sentava no "Mainstreet" com meu amigo Gabriel para tomar um café à carioca e observar as belas moças que passavam. Na mesa Rubem Fonseca nos acompanhava passivamente com o cigarro e o café. Por um momento reclamei por ter trazido do trabalho o livro. "Vastas emoções e pensamentos imperfeitos". Eu o trouxera para terminar as últimas vinte páginas, mas percebi, que em casa não ia ler. Continuávamos a beber nosso café e depois de muito papo pro ar, fomos embora.

O motorista da condução fumava seu cigarro, quando cheguei, logo tive tempo de terminar o meu. vi algumas mulheres dentro da condução, o Rubem na mão suada, aos poucos escorregava. Tinha sido um dia muito quente.

O motorista entrou no veículo, e então dei minha última tragada. Entrando na condução ainda com a fumaça no pulmão, soltei a fumaça já sentado, mirando a janela pra não incomodar os passageiros. a pressão arterial ainda forte, quando por um instante vejo uma mulher. Eu congelara ali mesmo.

Cabelo cacheado, o ruivo intenso, preso num "coque". A pele fina, algumas sardas, o nariz levemente fino, os olhos expressivos, no momento, tímidos, tentando achar alguma saída em sua bolsa. Procurava alguma coisa. a boca bem traçada, com algum batom leve.

Meus olhos aos poucos iam descendo até seus seios, também com algumas sardas, os seios médios, o vestido florido. Meus olhos desceram mais um pouco, e quando vejo, estou olhando entre suas pernas, no momento, consideravelmente separadas, dando-me uma visão privilegiada.

A condução, uma Kombi, devia ser uma 2005, os bancos um de frente para o outro, com capacidade cada, de quatro pessoas, espremidas. Um pequeno lugar, no qual olhares são trocados diariamente. um lugar um pouco constrangedor.

Rapidamente, fugi o olhar daquela perdição, uma atitude muito vulgar para tal mulher tão elegante. Olhei a paisagem, mas o pensamento ainda se encontrava naquela linda mulher. Percebi que ela olhava o Rubem no meu colo. por um momento hesitei em encará-la.

Por volta de Um ano, eu a vi pela primeira vez, em passos que pareciam deixar poesia por onde pisasse. Uma rosa na mão esquerda, a outra segurando a pequena bolsa, e o vestido preto. Foi amor a primeira vista. Até porque só poderia ser a primeira, pois a segunda eu perdi com Três anos de idade num acidente. Depois desse dia, eu sempre que via a comia com "meus olhos", fazendo assim, ela perceber minha admiração.

Um dia ainda cheguei a por uma poesia em sua porta. Desde novo, eu sempre vivi muitos amores platônicos. É o meu bem, é o meu mau.

Conforme a Kombi seguia seu rumo, o lugar ia tomando por um constrangimento, por minha parte. Já não conseguia ficar alguns segundo sem olhar entre suas pernas, e o mais impressionante que possa parecer, ela em nenhum momento, fechou as pernas. Parecia que queria que eu ficasse ali, preso naquela situação. E conseguiu. meus olhos cada vez mais presos naquele vão, onde o que eu queria ver, mostrava-se mais nítido, e assim eu concluindo ali mesmo, que a calcinha dela era branca. Ao contrário do que parece, em nenhum momento, eu fiquei excitado a ponto de meu objeto sexual, ficar ereto. Mas cada vez mais eu suava, cada vez mais nervoso, constrangido, e por um momento, sinto uma enorme graça na situação. Pensei em Deus. Deus me deu a oportunidade de ver seu sexo, eu não podia desperdiçar. Talvez fosse ela, Deus.

A viagem que era feita dentro de Cinco minutos, desta vez parecia ter sido feita em Trinta minutos. Logo me dei conta do que estava fazendo, e tentei olhar nos seus olhos. Tentar trocar um olhar, mas seus olhos compenetrados na paisagem. Obviamente estava disfarçando uma distração. Qualquer mulher em seu lugar, sentada de frente para um homem, fecharia imediatamente suas pernas. Ela era diferente. Ela queria brincar comigo.

Tentei também disfarçar. Olhar a paisagem. Naquele instante já achava a situação normal. Havia me adaptado. Mas a graça era tanta que para não demonstrar que a qualquer momento poderia abrir um sorriso bobo, mordi os lábios, tentando conter a graça.

Toda vez em que estou num lugar no qual, momentaneamente perfeito, eu sinto um desejo imenso de que se acabe logo. Fico ansioso pensando no depois do acontecido. A graça de tudo está na nostalgia de poder lembrar os fatos. Em shows, festas ou fodas, sempre foi assim. viver o momento pensando ansiosamente no depois. E naquele momento era o que mais queria. Chegar à porta do meu condomínio.

Assim, com a condução entrando em minha rua, hesitei em dizer ao motorista rapidamente o nome do meu condomínio. Queria que ela ouvisse minha voz grave. Seduzi-la com o pouco que tinha, além do Rubem, em meu colo. Se é que ela gosta de literatura.

A condução parou em frente ao meu condomínio. Desci primeiro, e paguei o motorista. Ela logo foi à frente. Adiantei os passos e passei por ela, calculando ali, um gesto obvio de cavalheirismo. Abri a porta e fiquei esperando ela passar. Foram os Três segundos mais longos da minha vida. Nem estar em cima de um touro, nesses rodeios, por Sete segundos, foi tão longo quantos os Três segundos em que ela vinha em minha direção, olhando timidamente olhando para o chão.

Levando meus olhos aos seus pés, fui subindo o olhar devagar, até seus seios, assim chegando até seus olhos. Em minha mente, eu imaginava o que ela fosse dizer. "Obrigada".

Vi sua boca avermelhada abrir num movimento em câmera lenta, e pronunciar o que esperava.

Enquanto pronunciava, um rápido olhar. Tentou fazer de a situação parecer algo normal, mas foi péssima na atuação.

Segui em sua frente para dar passagem ao outro portão, mas seus passos foram em direção à portaria. Terminava ali minha relação com aquela linda mulher.

Caminhando em direção ao meu prédio, pude felizmente abrir o sorriso bobo. Há tanto tempo não me sentia tão feliz com tão pouco. Deus queria me ver feliz. Como só ele pode fazer, calculou tudo perfeitamente para que se fosse uma bela trama. Ao mesmo tempo em que o livro em meu colo dava título à aquela situação, "Vastas emoções e pensamentos imperfeitos" , dava também pista para ela de quem era o poeta que escrevera a poesia.

Durante o resto do dia, a imagem daquela linda mulher, que eu apelidara de "Ruivinha" se manteve em minha mente até que eu entrasse no sono e dormisse. E é com prazer que faço agora uma homenagem ao grande Rubem Fonseca, deixando aqui o último verso de seu livro.


"Tudo era fantasia, um sonho, um mundo de vastas emoções e pensamentos imperfeitos."