Com menta naquele lugar. É bom.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 18

- Por rebeldia ou medo?
- O que? - Responde Constanza arrumando a cama.
- Por rebeldia ou por medo, que você fugiu.
- Não fugi.
- Então por que sumiu?
- Minha vó faleceu, e fui me despedir dela.
- Bom saber que você tem família. Que mais?
- Eu sei que você sentiu minha falta, mas não precisa fazer drama. Estou aqui agora, isso que importa.
- Não. Não senti sua falta, em primeiro lugar, segundo que não sei quem você é, onde trabalha, até mesmo onde mora. Não acha que devo saber o mínimo de sua vida, para te aceitar em minha casa?
- Também não sei nada de sua vida, de onde veio, o que faz pra ter dinheiro, somente onde mora.
- Não sou de falar de minha vida.
- E por que eu tenho que falar da minha. Achei que fossemos um casal livre.
- Ta bom, vou falar um pouco de minha vida. Matei minhas duas últimas esposas, tenho um filho bastardo por aí, e assaltei um banco alguns anos atrás, que me proporciona uma vida tranquila.
- E eu sou puta.
- Engraçado, minhas esposas também eram.
- Qual era o nome delas, quem sabe eu não conheça.
- Lígia e Patrícia. E você, o que mais?
- Trabalho aqui perto, no Centro, divido um AP com duas outras amigas.
- E posso saber teu nome verdadeiro?
- Angélica.



Durante toda a semana, Constanza ficou com Carlos em seu apartamento, onde desfrutaram um do outro, e mataram a saudade que há tão pouco dilacerava Carlos por dentro e fora. Dias mansos, de amizade e conhecimento. Aos poucos, se permitiam e se descobriam, de uma forma sincera e sem vaidade. Dormiam de conchinha e diziam coisas tímidas ao pé do ouvido. Constanza ensinava Carlos algumas receitas, Carlos ensinava pintar. Revezavam na limpeza, revezavam na cozinha. Na cama, Carlos na esquerda, Constanza na direita. No banho, Primeiro Constanza, depois Carlos. Na pia do banheiro, ambos escovavam os dentes, dividindo o mesmo espelho. No armário, Cons conseguiu espaço. Duas gavetas para cada, cabides para Cons, e prateleira para Carlos.
Nas sexta-feiras, jantavam algo especial à noite na varanda. Nos sábados, iam ao cinema. E nos domingos iam à praia bem cedinho. No resto da semana, bebiam vinho, faziam compras, conheciam algum lugar novo, e conversam sem parar, sempre bebendo alguma coisa, para não deixar secar a garganta. Aos poucos, os olhares de um para o outro mudava. Um olhar de conforto, e admiração. Alguns gestos de carinho era comum nas pequenas horas, apesar de tímidos, para não perder o orgulho, demonstrando um pouco daquilo que o peito transbordava. Amor puro.

Vermelho Cor de Sangue - Parte 17

Carlos um dia depois de reencontrar sua amada, andando pelo Centro, foi atingido por um carro ao atravessar uma rua, que o deixou estirado ali, em plena Rio Branco com Avenida Chile. Foi levado ao hospital, vivo, sem risco de vida, mas com uma perna quebrada e a outra muito machucada. Com ajuda de enfermeiros, depois de atendido foi levado para casa, onde deveria ficar de repouso até melhorar. Pedro, seu amigo, foi comunicado e imediatamente foi ajudar. no dia seguinte do ocorrido, Constanza sem saber de nada, foi à casa de Carlos o visitar. Quando chegou e viu o estado em que se encontrava, ficou impressionada e abalada. Se dispôs a ajudar, assim dispensando a ajuda de Pedro, que confiou na jovem guria.
Durante as noites de carnaval, Constanza ficou ao lado de Carlos, trocando os curativos, cozinhando, auxiliando no que ele precisava. Nem sempre dormia com ele. Quando dormia, apesar de estar com as pernas fodidas, transavam. Carlos não podia fazer muito esforço, mas sempre arranjavam um jeito menos doloroso para fazer amor. Nas noites que Constanza não dormia com ele, Carlos suava e fumava, passando as vezes a noite em claro, no quarto escuro, sentindo a falta de sua Cons.
Aos poucos, com a recuperação rápida de Carlos, já podia se levantar, andando de muletas, e não precisando tanto da ajuda de Constanza para algumas coisas, como ir ao banheiro, ou até preparar algo para comer. Consequentemente as visitas de Constanza já não eram tão frequentes, e logo suas noites sozinho sempre trazia alguma frustração, pois o carnaval já ia se despedindo, e tudo que queria era não ficar preso em casa no meio de tanta festa. Não que Carlos ligasse para carnaval, mas no fundo se sentia agoniado por estar à parte de todo aquele clima de alegria que reinava em toda sua volta. Na verdade Carlos tinha medo de Constanza se perder naquele carnaval e não mais voltar, medo de seu amor se misturar em toda aquela purpurina e serpentina.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 16

Era uma noite que antecedia o carnaval. Fazia um calor descomunal, e toda a cidade já estava enfeitada com fitas coloridas nos fios dos postes. Uma energia diferente circulava entre as ruas de Santa Tereza. Música até depois das dez horas da noite, bares cheios, crianças acordadas até tarde e muita lata pra cachorro virar. Naquela noite, já perto da meia-noite, começou a chover forte apesar do calor, num intervalo pequeno de dezenas de minutos, se ouvia algumas pessoas correndo rindo, brincando naquele aguaceiro que caía. Carlos foi até a varanda, sentir um pouco daquela chuva que dava boas vindas ao carnaval refrescando os mascarados que vagavam àquela hora nas ruas. Ouvindo passos não-lineares batendo ora forte, ora fraco, cambaleante nos paralelepípedos, Carlos avista uma mulher de vestido preto, ensopada, com um andar meio bêbado, tentando fixar uma direção. Imediatamente pensa em ajudá-la e então desce do jeito que se encontrava até a tal mulher. Quando sai de sua porta, a mulher está encostada em um muro, segurando uma máscara de carnaval veneziano. Quando vê a aproximação de Carlos, ela leva a máscara ao rosto e pergunta:
-O que queres meliante?
-Só vim saber se está bem.
-Claro que estou bem, pode voltar para seus aposentos. Responde a menina, entonando uma postura teatral.
-Tem certeza? Está enrolando a língua para falar.
-Claro meliante. Xô!
-Tudo bem. Boa noite! Carlos responde dando as costas em seguida.
Mas a jovem menina o manda parar. Carlos pára e olha para trás. Então ela o chama de volta acenando com o dedo. Carlos se aproxima e então a menina tira a máscara, mostrando sua face delicada molhada e aparentemente cansada - Senti saudades de você - Carlos continuou parado, olhando fixamente nos olhos da guria.
-Me perdoa a distância, meliante.
-Logo numa noite de carnaval - Responde Carlos.
-Você não sabe o que significa o carnaval.
-Não significa nada.
-Assim como sua obra, seu bandido.
-O que quer dizer com isso? - Pergunta inquieto.
-Você não entende a liberdade da vida, das coisas...
-O amor só é livre quando é amor à dois.
-Sua obra reflete teu coração. Foi por isso que o deixei.
-Você jogou fora o meu amor, nosso amor. Literalmente.
-Fui embora justamente porque não entende nada de amor, ou arte.
-Me senti violentada, presa.
-Te dei a maior liberdade do mundo, mas você foi tão infantil quanto essa máscara que carrega.

Ela larga a máscara no chão, enquanto uma lágrima se perde com a água em seu rosto e o beija. Um beijo quente, de abraço forte. Em seguida os dois se desculpam simultaneamente e acham graça, depois se beijam e se abraçam com mais força, ali no meio de toda aquela chuva de verão, no meio de todo aquele carnaval.
Foram para casa, os dois juntos, abraçados em silêncio. Ao entrar, Constanza olhava tudo com o olhar de novidade. Carlos pegou algumas roupas suas para ela vestir e foi se enxugar. Enquanto se enxugavam, atnes que se vestissem, se olharam e não conteram o instinto, se agarrando e ali despindo o pouco de roupas molhada que escondia seus corpos. Foram para o quarto esbarrando pelas paredes, quase ficando pelo corredor, mas a cama os puxava. Deitaram no colchão com alguns rasgos, sem lençól e foram se chupando e se mordendo, ofegantes, com sede e fome de meses. Ora Constanza contraía todo o corpo com arrepíos, ora relaxava e se deixava possuir quase em transe. Carlos ía com fome, agarrava com força, mordia, batia, e ela gostava e em resposta o arranhava. Fodiam como nunca antes, sexo com amor e saudade. Se prendiam um ao outro como se fossem fundir seus corpos e gemiam alto, como se não houvesse mundo. Assim que gozaram juntos, descansavam amontoados, carne, suor e porra. Enquanto Constanza descansava, deitada sobre o peito de Carlos, levanta-se rápido e pede para que Carlos a espere e sai do quarto. Depois de alguns minutos, Constanza pega Carlos pelo braço e o leva até a sala. No chão, pano de tela forrado com algum bocado de tinta derramado na tela. Em seguida deitou-se de frente para Carlos de pernas abertas, o chamando. Carlos então deitou-se sobre ela e sem pré-eliminares começaram a foder ali no chão, rolando entre a tinta derramada sobre a tela. Novamente gozaram arte, como uma forma de voltar atrás naquilo que erraram. Fizeram amor até perto de amanhecer e então pararam exaustos. Ainda sem falar nada, foram para o banho, onde se acariciaram e se masturbaram e se limparam de toda aquela tinta. Ao sair do banheiro, Constanza preparou um café, enquanto Carlos fazia algo para comer. Beberam café sentados no chão, perto da varanda, nus, ainda sem dizer uma única e qualquer palavra. olhavam o sol nascer e dizer boas vindas ao amor. Os blocos tomavam as ruas, o sol trazia calor e alegria, Carlos e Cons dormiam, com os corações tomados de folia.

domingo, 8 de agosto de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 15

Dentro de casa já não se sentia tão à vontade. Carregava um peso que o fazia querer andar, e ao mesmo tempo uma agonia, um incômodo consciente de não querer pausar naquele marasmo. sentia-se como estivesse morrendo. Entre o não-querer daquele marasmo e a indisposição, Carlos começa a agredir o próprio corpo, inicialmente como uma brincadeira, mas conforme via que o choque de sua mão fechada contra o oposto braço lhe dava um ligeiro e imediato alívio, passou então a bater com mais força, e em seguida não só em seu braço, mas em todo o corpo. Costas e perna. Talvez fosse o barulho do impacto, ou fosse realmente a dor. Começa então a brigar consigo. Uma briga entre a cabeça e o corpo. A cabeça defendendo os desejos, o corpo refletindo a necessidade. Desejos de reencontrar Constanza, e tirar o peso da solidão. Necessidade de calor, sexo e compania. A dor era apenas um sentimento, um meio de estar próximo daquilo que no momento almejava.
A carne que era branca, então passou a ficar avermelhada, cansada, dolorida. De repente pára por um instante. Se senta ofegante na poltrona e leva as mãos ao rosto, tapando os olhos, escondendo-se do que não sabia exatamente o que era, mas sentia-se seguro. Rapidamente lembrou-se de quando era criança, e fazia o mesmo quando temia algo. Tapava o rosto, deixando pequenos espaços entre os dedos e por ali, observando o que estaria à sua frente, isso lhe dava uma sensação de conforto e segurança. Encostou e relaxou, quase chorou, mas não chorou.
Uma abstinência quase mortal. Como um homem que se entendia por independente, poderia ficar num estado de total descontrole e dependência por causa de uma fêmea? Obviamente não uma fêmea qualquer, mas uma fêmea cheia de mistérios. Carlos não sabia e pouco se importava para o que ela fazia, onde morava, de onde viera, nem o signo dissera. Tão misteriosa quanto uma droga. Carlos bebia aquele veneno sem medir as consequências. Como vinho, bebera demais e agora vomitava toda aquela dor de mal-amor. Mas era muito além de um porre emocional. Toda aquela sua destruição se assemelhava mais à cocaína, tendo por conta as características emocionais de Carlos. Talvez uma mistura de cocaína e vinho. Vomitava toda aquela paixão, mas dentro dele, queria muito mais. Queria consumi-la até seu fim, e consequentemente, quem sabe morrer com um tiro no peito, mas o destino não é gostoso como imaginava. É imprevisível, assim como tudo que acontecera na vida de Carlos, exatamente tudo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 14

O ambeinte já não era o mesmo. A cama, o par de xícaras, as velhas roupas, a cozinha americana, os quadros, e por último, a varanda. Só lhe restava a poltrona, onde dormia, pensava, comia, rabiscava algumas coisas e via a vida passar, sem fazer nada. Dinheiro tinha de sobra, que era de herança, mas a vida não se resume em bem-estar capital, e sim em ter uma vida, deixar algo para a posteridade, ou simplismente criar algo para si, e usurfruir daquilo até a morte. Já se passavam alguns meses desde que haviam brigado, e Carlos ainda se encontrava em plena inércia. As vezes sentia algum cheiro e se lembrava dela. Os olhos pequenos e cor de mel, os cabelos até os ombros, a pele branca, levemente dourada, os lábios finos, mas bem definidos, o nariz pontudo, nem tão grande, nem pequeno. Mediano, assim como os seios. Mãos delicadas, sem esmalte. Abaixo do umbigo, tudo muito normal, porém especial, delicado, envolvente. E por fim as coxas macias e lisas. Conztanza era uma mulher de muitos cheiros, mas em geral, seu perfume Carlos nunca encontrou igual. Um cheiro único, que sentia falta.
No colchão, o cheiro lembrava suas coxas e cangote. Quando cheirava suas mãos que fediam a cigarro, lembrava dos seios. No chuveiro, o cheiro do box, enquanto a água descia pelos seus lábios, se lembrava do cheiro de seu cabelo e do gosto de sua boceta. Ao ficar pronto o café, o cheiro que circulava pela casa lembrava seus pequenos pés, esfregando nos seus. Um universo de sensações e lembranças. O pouco que fazia Carlos ainda querer viver, e manter acesa a esperança de reencontrá-la e pedir desculpas.

Abriu a geladeira, pegou a água e encheu o copo. Em seguida pegou a xícara de café. O açúcar estava no final, então pegou um novo saco de açúcar e cortou com a faca para colocar no recipiente. Lembrou ligeiramente dos antigos sacos de leite. Era um perigo, sempre derramava um bucado. Em seguida colocou duas colherzinhas de açúcar, mexeu e bebeu. Depois do último gole veio a sede, então bebeu o copo d'água gelada. Geralmente fumava um cigarro enquanto tomava seu café, mas de vez em quando gostava de beber água depois de um café quente e doce. O que era quase um vício caseiro. Provocar a tensão e o alívio. Com café provocava a sede, em seguida saciava com o copo d'água.
Deitou na cama para dormir. Um vício que também tinha era tomar café à noite. Muitos diziam que fazia mal, que não descançava a mente ou perdia o sono, mas para Carlos era como um calmante. Mania inclusive que resultou em separação com algumas mulheres que passou por sua vida. Adorava beber café depois de transar. Elas além de não gostar da ideia, não permitiam. Fodiam e dormiam. Mulheres diferente dos clichês em filmes, as de Carlos nunca conversavam, ou discutiam a relação depois da transa.
Acordou, não como um dia qualquer, com remelas nos olhos e o gosto amargo na boca. Acordou timidamente apaixonado. E também não uma paixão qualquer, com carne, voz e vida, mas se sentia seguramente apaixonado por alguém que não existia. Uma mulher que namorava em seus sonhos. E podia afirmar dizendo também que não é um sonho qualquer, com surrealismo e tragédia, mas um sonho com sensações tão reais do qual sempre acorda, com o coração acelerado, quase pulando fora, e o sorriso tímido, as vezes quase disfarçado, dentro de si.

Hotel Patis, Praça Tiradentes. Caminha de lá para cá sem saber exatamente onde ir. Entra no Hotel, desce uma pequena escada de seis degraus, e chega numa sala um pouco pequena que toca rock britânico, com algumas pessoas dançando. Sai do Hotel, dá meia volta pela calçada e decide voltar ao local, desta vez por uma outra porta, onde encontra uma sala que daria acesso ao lugar onde parecia ser uma festa. Vai até a porta, mas está trancada, e há um segurança negro, alto e forte ao lado. Carlos tenta novamente abrir a porta e o segurança o impede, mas Carlos insiste dizendo que é jornalista e precisa entrar para cobrir a festa. O segurança cede, e Carlos volta para a festa, acendendo um cigarro. Percebe que a festa está mais cheia. Olha para o balcão do bar e vê duas jovens meninas encostadas. Uma criança chega perto de Carlos e pergunta por que ele fuma. Carlos responde com uma gargalhada inesperada e aparentemente doentia. Se aproxima de uma das meninas, com olhos verdes, pele branca e cabelos castanho escuro, mas não diz nada, a beija. Tudo fica escuro, e quando Carlos abre os olhos se ve dentro de um banheiro sujo, fodendo a jovem guria de olhos verdes. Fode com força a menina que grita de prazer. Branca com tatuagem nas costas e seios pequenos e caídos, mas apesar de tudo graciosa. Goza e se veste. Quando sai do banheiro encontra a outra menina, vomitando. Acorda confuso.

Não trabalha, consequentemente não precisa acordar cedo, mas mesmo assim, tenta acordar antes do almoço. Talvez uma das piores sensações que tem, é acordar depois do almoço. Uma sensação de que metade de seu dia se perdeu, talvez uma sensação de que esteja vivendo menos.
Acorda, ainda com muito sono e vai direto para o banho. Liga o chuveiro, ainda fora do box. Água fria. Deixa uns 30 segundos a água cair e molhar o box, e então entra mas sem entrar na água. Mija, molha as mãos, molha o rosto e então cai debaixo do chuveiro.
Durante o dia, uma mistura de ócio e espera, ansiedade, café e água.