Com menta naquele lugar. É bom.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vermelho cor de sangue - Parte 9

Pedaços de unha jogados na camisa. O tédio lhe dava, enquanto angústia, ansiedade por aquilo que queria fazer, porém que não existia, ainda. Dentro de sua cabeça uma imensidão inóspita, onde seus temores passavam como cometas, atingindo o gozo que tinha de ser feliz por ser feliz. E a felicidade, enquanto droga, exigia dele o esforço para além da simplicidade. Ser feliz agora siginificava não mais um sentimento e sim uma sensação efêmera, material e um tanto fria.

Sozinho, já bebia meia garrafa de café e nem se dava conta do quão rápido a semana passava, pois já era quinta-feira. Ao longo da semana, trocaram afagos pelos cantos da casa. Para qualquer que fosse o lugar que olhasse, lembrava-se dela. A presença da guria já se tornara insaciável.

Raia o dia. Mais um dia. Sexta-feira. Luz, calor, banho, roupa, rua, pão, primeiro cigarro, café, momentânea necessidade de trabalhar e logo em seguida, monotonia.
Se olha no espelho e pensa na vida a seguir. Vai ao Centro do Rio tomar um café.
Andando de cabeça baixa, cigarro na mão e pensando nos paralelepípedos aos quais pisar, depara-se com a confeitaria Cavé. Entra, pega comanda, olha-se nos espelhos, senta-se e pede ao invés de um carioca, como de praxe, um capuccino. Enquanto bebe, observa as pessoas ao redor. Um casal de velhos silenciosos. O senhor com um suco amarelo, aparentemente de maracujá, e a velha com um café e um croissant no prato, com um pouco de farelo nos cantos da boca pintada de vermelho. Em outra mesa uma jovem menina, aparentemente 16 anos, lendo um livro em francês com uma xícara na mesa e um copo d'água pela metade. Numa outra mesa um homem engravatado conversa com olhar de desejo e maldade para uma mulher que alisa a mão do mesmo, também vestida socialmente. Além do garçom que o olha com a cara de quem não gosta nem um pouco do trabalho.
Noite, trânsito, gente, frio, outro maço, monotonia. É profundamente agoniante o calor da depressão que carrega Carlos entre os ternos ambulântes do Centro do Rio. Pega o bondinho e volta pra casa.
Antes de pegar no sono, começa a divagar deitado na cama. Vê o quanto a vida não tem nada a lhe oferecer a não ser uma vida feliz e fútil com mulher, filhos e correntes em forma de gravata. Sente um forte repúdio ao que o mundo quer que se submeta. Pensa em Cons, e fica de pau duro ao lembrar das horas de amor. Ao mesmo tempo percebe que a vida não é nada. Comer, beber, rir, pensar, mijar e morrer. Já quase perdendo a consciência promete a si mesmo aproveitar a vida enquanto esta lhe oferece o lado bom da moeda. Pensa em consumir ao máximo Constanza. O pau fica mole e ele dorme.