Com menta naquele lugar. É bom.

sábado, 20 de junho de 2009

Vermelho cor de sangue - Parte 4

No vaso uma mistura de queijo semi-digerido e vinho e o cheiro de vômito que impestiava toda a casa. Bebera vinho chileno com queijo até as três da manhã na espera de Constanza.
Acordou, amarrou uma camisa tapando o nariz e foi pintar. Tela branca, começou a fazer listras pretas verticalmente sem qualquer sentido. Algumas mais pra esquerda, outras mais pra direita. De saco cheio de fazer aquilo, pegou uma pequena lata de tinta azul que estava no final e derramou sobre a tela e mandou aquilo tudo tomar no cu. Não gostava quando as coisas fugiam do controle. Era cético demais e pela primeira vez em muitos anos se sentiu sem controle sobre seus desejos, pois sempre que deseja algo, saciava aquilo o mais rápido possível e do jeito que queria, porém da noite que passou tomou seu primeiro tapa na cara. Decidiu limpar a casa.
Lavou o banheiro, separou as roupas sujas para a lavanderia e arrumou a cama. Passou uma vassoura na casa, limpou a cozinha inglesa. Trocou o jornal que forrava o chão da sala, onde pintava, jogou fora dezenas de latas vazias, pincéis, entre outras coisas velhas que auxiliava seu trabalho. Tirou a poeira da poltrona, abriu a janela, deu uma olhada 360 graus pela casa arrumada e se jogou na poltrona. Se não tinha bons quadros pintados, pelo menos a casa tinha que estar a seu querer. Cochilou.
Sonhou que tivesse caído de um barco direto no alto-mar. Havia uma boia com sino alguns metros dele, a boia que salvaria sua vida, mas não conseguia alcançá-la. Estava tudo muito escuro, e por isso não conseguia ver a bóia. Nadava em direção do som de seu sino, mas nunca conseguia chegar na bóia. Acordou ofegante e desesperado. A campanhia estava tocando, logo levantou-se rápido, receoso que a pessoa estivesse alí por muito tempo. Abriu a porta e deparou-se com um sorriso e um cheiro gostoso de bolo de fubá.
- Que cara é essa? - Brinca Constanza dando um peteleco em um pedaço de poeira que estava no ombro esquerdo de Carlos.
- Estava arrum...
- Faxina! - Interrompe o sonolento, e continua:
- Dúvido que tenha feito direito. Homens não sabem fazer essas coisas... Não vai me convidar pra entrar?
- Sim, claro! - Responde dando passagem para a jovem tagarela que entra num rebolado debochado como uma doce meretriz dos anos 50, deixando uma mistura de seu perfume de flores do campo com o cheiro do bolo.
- Até que me parece arrumada... Você é pintor? - Debochada por completa, novamente o provoca colocando o bolo sobre a divisória de tijolinhos da cozinha inglesa de Carlos.
- É... Sou artista plástico. E você, o que faz?
- Sou artista também. - Responde olhando delinearmente pela sala olhando os quadros.
- De qual manicômio?
- Como? - Pergunta levantando uma das sobrancelhas.
- Que tipo de arte você produz?
- Eu canto... - Voltando para os quadros, e continua antes que Carlos continuasse: - No chuveiro.
Novamente irônica, Carlos percebeu que além de provocativa, Conztanza gostava de falar. Era agitada, mas contida. Riu de sua piada com um sorriso de lado, mas no fundo achava muita graça de tudo aquilo.
- Deve cantar bem, tem uma voz bonita. - Jogou também uma letra, só para ver no que daria.
- Você se considera um bom pintor?
- Estou quase lá...
- Então eu canto bem. - Novamente alfinetou.
Carlos não gostou da piada, mas não queria perdê-la do alcance. Mudou a prosa:
- Ta cheirando bem esse bolo, de que é?
- Bolo comum. Fubá... é bom com café! Trouxe para você como boas vindas.
- Ah, muito obrigado, aliás, como sabe onde moro?
- Aqui todo mundo se conhece de vista... Perguntei na padaria e me disseram.
- Hum...
- Coma o bolo e depois me diga o que achou. Já estou de saída! - Se despede de forma fria indo em direção à porta quando Carlos interrompe:
- Calma! deixa que eu abro a porta, senão você não volta!
- Ah obrigada! - Arrancando um sorriso de Constanza.
- Eu que agradeço Constanza! Jovem Cons.
Ela sorri e sai. Carlos fecha a porta e sorri. Injeção de ânimo, de brinde sua janta em cima da mesa, depois de um dia sufocante.
Vai a cozinha preparar o café, seguindo o conselho de Cons.

Vermelho cor de sangue - Parte 3

Quando já colocava a chave na porta, olhou para o lado, lembrou passar na padaria, então abriu a porta, subiu as escadas até o segundo andar, abriu a porta suspirando forte, deixou as coisas que havia comprado e desceu.
Comprou queijo, pão, pasta de atum e um bom vinho chileno. Mercearia do seu João, um velho português bigodudo que resmungava e olhava a bunda das jovens meninas do colégio estadual que passavam por alí.
- Deu 53 reais meu filho. - Disse o português com seu sotaque lusitano.
- Aceita cartão? - responde Carlos com uma pergunta, dando tapinhas nos bolsos como se procurasse dinheiro.
- Aqui essas tecnologias ainda não chegaram, meu jovem, ainda bem! Ainda bem!
- Bom, só tenho cinquenta aqui comigo, posso pagar a diferença depois? Aliás, por que "ainda bem"?
- Tecnologia só vem pra complicar as coisas, não é Dona? - Pergunta para a moça que está atrás de Carlos, e continua: - Antigamente não tinha essas coisas de efeito estufa, furacões, ondas gigantes, aquecimento, que a tecnologia trouxe! Antigamente era simples e mais bonito de se viver. - Conclui o velho.
Antes que Carlos respondesse, a menina que estava atrás interfere: -toma aqui Seu João. Dando cinco reais para o velho portugês.
Carlos olha para trás e se depara com a jovem guria que tanto procurava, e três segundos depois que admirava aqueles lábios que tirava seu sono, responde: - Não, não precisa... - E interrompendo a rejeição dele, ela insiste: - Depois a gente se acerta.
- Se for assim, tudo bem. Muito obrigado.
- De nada. - Responde a jovem guria virando para suas compras e deixando Carlos perdido, sem saber onde olhar.
- Primeiro seu João que quem começou esse negócio de efeito estufa foi os seus avós, segundo que fucarão e onda gigante sempre teve, e se hoje em dia você tem conhecimento instantâneo sobre isso é graças a tecnologia, terceiro que a vida é bela! - Conclui Carlos pegando as bolsas de plástico no canto do caixa.
- Tens razão. - Responde Seu João não dando muita bola para Carlos e passando a farinha de trigo da guria pelo caixa.
Carlos sai da padaria bem devagar, alucinado.
- Qual seu nome? - Novamente a voz doce em sua costas.
- Carlos! - Responde sem saber quem pergunta, mas confiante de quem poderia ser.
- Prazer, Constanza!
- Nome diferente, italiano?
- Na verdade eu não sei meus pais nunca me disseram. - Responde a jovem guria em tom jovial.
- Como posso retribuir jovem Cons-tan-za? - Pergunta Carlos brincando com o seu nome.
- Esquece isso, se um dia eu precisar, eu te procuro.
- Enfim, tudo bem, comprei um vinho, se não tiver o que fazer hoje a noite...
-Pode deixar,eu apareço!