Com menta naquele lugar. É bom.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 11

Uma semana. Maços e maços, marcas de uma semana vazia. Maços vazios. Carlos ainda se sentia angustiado por ter sido jogado fora um quadro que, pintado por seu amor, fôra rejeitado pelo mesmo. Além da sociedade querer impor uma vida a ele, na qual rejeitava até os fios de cabelo em sua cabeça, esta mesma também o reprimia. Num estado de revolta e baixo estima, sentia vontade de cuspir nos quadros, na casa, em tudo que fazia parte de sua vida, inclusive em Constanza, mas não tinha coragem. Foi ao banheiro e cuspiu no espelho, em seu reflexo. Era uma forma de rejeitar a arte, ou ao menos seu criador. Incomodado com a vida, a que não queria levar e a que levava, decidiu fugir, arranjar outro e qualquer ambiente para refletir. Algum lugar que lhe desse a sensação de novo, algo que o fizesse sentir uma pessoa melhor. Queria um alívio imediato.
Foi à banca de jornal, comprou cigarros. Nem tão forte, nem tão fraco. Entrou em ruas que não costumava passar, observou lugares que passavam despercebidos e que sempre estiveram ali, sem que ele desse sequer uma única olhada. Cumprimentou pessoas que não conhecia, jogou guimbas de cigarro em meio-fios que até então não existiam.
Cansado de procurar, entrou num bar e pediu uma cerveja gelada. Bebendo no balcão, viu uma mulher sentada em uma mesa, sozinha, bebendo água. Reparou naquela mulher atraente e em seguida desviou o olhar para a rua. Sentiu um olhar recíproco pelo reflexo. Os olhos azuis dela contornara o corpo bruto e tenso de Carlos.
Antes que ela desviasse o olhar, Carlos olhou-a em seus olhos, a encarando por alguns segundos e consequentemente recebeu um sorriso pela ousadia da intrigante mulher.
Em seguida ela se levanta com um lenço vermelho na mão, vai até um espelho no fundo do bar e começa a vestir o lenço na cabeça. Enquanto vestia o lenço que lhe dava o ar de camponesa européia, o desejo dele era beijá-la do cangote até seu limite, pegá-la no colo, levá-la à cama, despi-la e foder. Queria transformar o tédio em gozo e depois ouvir quieto, deitado com a cabeça em seus seios os desabafos da jovem guria. Mas para seu tormento, ela vestiu o lenço, ajeitou a franja e saiu do bar, o deixando sozinho, passivo e quieto, se remoendo naquele marasmo de boteco.
Pequena, meiga, de lábios bem hidratados e pele lisa, como a de uma menina, sem rugas, sem cicatrizes, ou sequer marcas de sofrimento qualquer. Tinha olhos azuis e sinceros, como um novo mar para navegar, o mar que precisava. Um mar sereno, diferente do estado tempestade que se encontrava seus olhos cansados. Aos poucos perdia em cada golada no copo de cerveja as efêmeras e pequenas lembranças da jovem de lenço na cabeça. O álcool apagou tudo, inclusive a tensão que o levou ao bar, e também seu passageiro tesão.