Com menta naquele lugar. É bom.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vermelho Cor de Sangue - Parte 14

O ambeinte já não era o mesmo. A cama, o par de xícaras, as velhas roupas, a cozinha americana, os quadros, e por último, a varanda. Só lhe restava a poltrona, onde dormia, pensava, comia, rabiscava algumas coisas e via a vida passar, sem fazer nada. Dinheiro tinha de sobra, que era de herança, mas a vida não se resume em bem-estar capital, e sim em ter uma vida, deixar algo para a posteridade, ou simplismente criar algo para si, e usurfruir daquilo até a morte. Já se passavam alguns meses desde que haviam brigado, e Carlos ainda se encontrava em plena inércia. As vezes sentia algum cheiro e se lembrava dela. Os olhos pequenos e cor de mel, os cabelos até os ombros, a pele branca, levemente dourada, os lábios finos, mas bem definidos, o nariz pontudo, nem tão grande, nem pequeno. Mediano, assim como os seios. Mãos delicadas, sem esmalte. Abaixo do umbigo, tudo muito normal, porém especial, delicado, envolvente. E por fim as coxas macias e lisas. Conztanza era uma mulher de muitos cheiros, mas em geral, seu perfume Carlos nunca encontrou igual. Um cheiro único, que sentia falta.
No colchão, o cheiro lembrava suas coxas e cangote. Quando cheirava suas mãos que fediam a cigarro, lembrava dos seios. No chuveiro, o cheiro do box, enquanto a água descia pelos seus lábios, se lembrava do cheiro de seu cabelo e do gosto de sua boceta. Ao ficar pronto o café, o cheiro que circulava pela casa lembrava seus pequenos pés, esfregando nos seus. Um universo de sensações e lembranças. O pouco que fazia Carlos ainda querer viver, e manter acesa a esperança de reencontrá-la e pedir desculpas.

Abriu a geladeira, pegou a água e encheu o copo. Em seguida pegou a xícara de café. O açúcar estava no final, então pegou um novo saco de açúcar e cortou com a faca para colocar no recipiente. Lembrou ligeiramente dos antigos sacos de leite. Era um perigo, sempre derramava um bucado. Em seguida colocou duas colherzinhas de açúcar, mexeu e bebeu. Depois do último gole veio a sede, então bebeu o copo d'água gelada. Geralmente fumava um cigarro enquanto tomava seu café, mas de vez em quando gostava de beber água depois de um café quente e doce. O que era quase um vício caseiro. Provocar a tensão e o alívio. Com café provocava a sede, em seguida saciava com o copo d'água.
Deitou na cama para dormir. Um vício que também tinha era tomar café à noite. Muitos diziam que fazia mal, que não descançava a mente ou perdia o sono, mas para Carlos era como um calmante. Mania inclusive que resultou em separação com algumas mulheres que passou por sua vida. Adorava beber café depois de transar. Elas além de não gostar da ideia, não permitiam. Fodiam e dormiam. Mulheres diferente dos clichês em filmes, as de Carlos nunca conversavam, ou discutiam a relação depois da transa.
Acordou, não como um dia qualquer, com remelas nos olhos e o gosto amargo na boca. Acordou timidamente apaixonado. E também não uma paixão qualquer, com carne, voz e vida, mas se sentia seguramente apaixonado por alguém que não existia. Uma mulher que namorava em seus sonhos. E podia afirmar dizendo também que não é um sonho qualquer, com surrealismo e tragédia, mas um sonho com sensações tão reais do qual sempre acorda, com o coração acelerado, quase pulando fora, e o sorriso tímido, as vezes quase disfarçado, dentro de si.

Hotel Patis, Praça Tiradentes. Caminha de lá para cá sem saber exatamente onde ir. Entra no Hotel, desce uma pequena escada de seis degraus, e chega numa sala um pouco pequena que toca rock britânico, com algumas pessoas dançando. Sai do Hotel, dá meia volta pela calçada e decide voltar ao local, desta vez por uma outra porta, onde encontra uma sala que daria acesso ao lugar onde parecia ser uma festa. Vai até a porta, mas está trancada, e há um segurança negro, alto e forte ao lado. Carlos tenta novamente abrir a porta e o segurança o impede, mas Carlos insiste dizendo que é jornalista e precisa entrar para cobrir a festa. O segurança cede, e Carlos volta para a festa, acendendo um cigarro. Percebe que a festa está mais cheia. Olha para o balcão do bar e vê duas jovens meninas encostadas. Uma criança chega perto de Carlos e pergunta por que ele fuma. Carlos responde com uma gargalhada inesperada e aparentemente doentia. Se aproxima de uma das meninas, com olhos verdes, pele branca e cabelos castanho escuro, mas não diz nada, a beija. Tudo fica escuro, e quando Carlos abre os olhos se ve dentro de um banheiro sujo, fodendo a jovem guria de olhos verdes. Fode com força a menina que grita de prazer. Branca com tatuagem nas costas e seios pequenos e caídos, mas apesar de tudo graciosa. Goza e se veste. Quando sai do banheiro encontra a outra menina, vomitando. Acorda confuso.

Não trabalha, consequentemente não precisa acordar cedo, mas mesmo assim, tenta acordar antes do almoço. Talvez uma das piores sensações que tem, é acordar depois do almoço. Uma sensação de que metade de seu dia se perdeu, talvez uma sensação de que esteja vivendo menos.
Acorda, ainda com muito sono e vai direto para o banho. Liga o chuveiro, ainda fora do box. Água fria. Deixa uns 30 segundos a água cair e molhar o box, e então entra mas sem entrar na água. Mija, molha as mãos, molha o rosto e então cai debaixo do chuveiro.
Durante o dia, uma mistura de ócio e espera, ansiedade, café e água.

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