Com menta naquele lugar. É bom.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vermelho cor de sangue - Parte 6

Acordar cedo é uma ótima iniciativa para se ter um bom dia, pensava Carlos. Quando acordava cedo, por mais cansado que estivesse, tinha o corpo mais bem disposto, a mente fluía. Acordou dez e meia da manhã, se preparou e foi para a praia de Copacabana. Não era pervetido, mas gostava de olhar as meninas de topless expostas ao sol quente. Depois da Lapa, Copacabana é o lugar onde atrai gente de todos os tipos. Prostitutas, travestis, gays, traficantes, religiosos, empresários, artistas, pagodeiros, intelectuais, negros, brancos, índios, estrangeiros, gente que sabe e não sabe nadar, enfim, pessoas de todos os tipos, raças, crenças, profissões, além de pessoas como Carlos, que gostava de admirar outras pessoas.
Após aproximadamente uma hora caminhando pela orla, debaixo de um sol escaldante, depois descançou três horas num quiosque as pernas doloridas. Foi de encontro ao mar, mas antes escolheu entre as milhares de pessoas deitadas nas cangas coloridas, alguém que aparentava ser de boa índole e deixou sua carteira enrolada na camisa. Refrescou a carne quente, misturando o suor salgado à água salgada do mar sujo daquela praia. Só conseguiu ver uma moça de topless, e nem achou tão legal assim. Voltou para a orla, caminhou um pouco mais devagar por alguns metros e sentou-se em outro quiosque, desta vez para comer algo. Depois de uma leve refeição, fumava e olhava o mar. Aquelas crianças eufóricas, pulando e se jogando contra as ondas, as mães os chamando, o salva-vidas que era admirado pelas senhoras descontentes com o casamento, as meninas que coravam suas peles para a noite, os rapazes do vôlei, o vendedor de picolé. Quem o visse dessa maneira, fumando e olhando o que tinha em sua frente, logo imaginaria que estivesse refletindo sobre sua vida, mas sua vida passava longe de sua cabeça, quando pensava na vidas daquelas pessoas. Analisava todos e esquecia-se de tudo. Já anoitecia quando decidiu tomar rumo a outro lugar. Já não estava calor, e nem estava tão cheia a praia.
andava por entre os prédios, quando encontrou um boteco. Parou para tomar uma cerveja e ouvir conversa de bêbado. Boteco clássico. Balcão, dois atendentes do lado de dentro, prateleira de vidro, máquina de café amassada, garrafas de cachaças desconhecidas nas paredes, uma televisão com interferência passando a novela das seis, e alguns homens jogados naquele pedaço negativo do bairro. Um deles embriagado e provavelmente sem dinheiro, olhava a novela sem vê-la. Pensava na vida, ou talvez nem vida tivesse para pensar, lembrar, refletir, e só estivesse vendo a novela. Os outros em companhia de outros bêbados. Quando já se via no caminho curto da embriaguez, avistou um homem de aparência depressiva. Jaqueta jeans, cavanhaque, cabelo curto e grisalho, olhos amarelos, peito magro e fundo escondidos pela camisa preta surrada. O sujeito era viciado, tava na cara. Era elétrico, coçava o nariz com frequência e tinha o olhar penetrante, como se quisesse agredir quem o encarasse. Carlos disfarçava e olhava aquele sujeito estranho. Tinha também um pouco de receio de que o cara pudesse perceber e tirar satisfações com ele, mas não conseguia parar de observar a atitude daquele homem. O sujeito, trocou cochichos com outro sujeito estranho, pegou algo de sua mão e foi para o fundo do bar entrando no banheiro sujo. Alguns minutos depois saiu mais estranho, com olhos arregalados e muito agitado, porém Carlos viu no fundo dos olhos e nos músculos relaxados de sua face que o sujeito parecia estar satisfeito, tranquilo, apesar da euforia que apresentava. Carlos sempre havia falar dos efeitos da cocaína, que seus amigos contavam depois das festas, festas das quais Carlos não frequentava. Viu que o sujeito era viciado em cocaína e ficou impressionado. Pagou a conta e voltou pra casa. Como só tinha ônibus até a Lapa, e o bondinho já não funcionava aquela hora, foi para mais um desses hotéis aparentemente limpos do centro. Deu boa noite aos travestis da porta e foi dormir.

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